TRANSTORNO MENTAL, FAMÍLIA E SOCIEDADE
A desconstrução dos medos e preconceitos
Tratar de questões ligadas ao transtorno mental expressado por suas multifaces nos diversos lares do Brasil, ainda tem sido uma situação desconfortável ou, no mínimo, desinteressante. A negação discreta e/ou desapercebida desta disfunção na saúde e/ou do termo - reforça a cultura do silêncio quando diz respeito aos distúrbios psíquicos os quais, por muitas vezes, afetam o comportamento, o humor e até mesmo o raciocínio e/ou memória de membros familiares, a depender do tipo de transtorno.
O termo transtorno mental é utilizado nos sistemas classificatórios atuais da psiquiatria em substituição a outros termos como doença ou enfermidade, visando à abordagem diagnóstica puramente descritiva - conjunto reconhecível de sintomas ou comportamentos (OMS, 1993 apud CLEMENTE ET AL, 2011). Transtorno mental são disfunções no funcionamento da mente que podem afetar qualquer pessoa e em qualquer idade [...], é um mal silencioso que pode estar presente em qualquer fase da vida de uma pessoa. Seus reflexos acontecem no âmbito psicológico e podem ter reflexos físicos dependendo do estágio da doença (HSM/psiquiatria, 2018).
O fato é que, se por um lado o termo começa a forçar espaços de discussão e ações socioeducativas, por outro, o preconceito acerca das questões que envolvem a saúde mental - de forma geral - ainda impera na maioria dos recintos familiares e da tão evoluída sociedade. A carência de informações e diálogos dificulta a evolução da ciência e da sociedade em qualquer área, inclusive, na área da saúde mental, esta que representa o equilíbrio emocional diante de situações diversas no contexto cotidiano. Portanto, faz-se necessário a seguinte reflexão: para que entender sobre saúde mental? para viver melhor, talvez! Assim, com base na literatura pesquisada com a finalidade de fundamentar este texto ainda que de forma sucinta, pode-se dizer que:
Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional, pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis (saude.pr.gov.br, 2018).
É o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem contudo perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro (Dr. Lorusso apud saude.pr.gov.br, 2018).
Uma boa parte da área que abrange a saúde mental e a psiquiatria no Brasil tem se movimentado, especialmente, a partir da década de 1970, quando da Reforma Psiquiátrica e seus desdobramentos nas décadas posteriores com o objetivo de implantar um modelo humanizado nos tratamentos psíquicos hospitalares e/ou institucionais, bem como, de influenciar o acompanhamento e respeito familiar e social voltado para a Pessoa com Transtorno Mental, principalmente, quando se refere ao preconceito e aos maus tratos.
Desde os anos de 1970 a sociedade brasileira tem clamado por melhores modelos de programas e ações na área da saúde mental, tudo isso, no sentido de superar as práticas tradicionais que tem expressado a exclusão daqueles vistos como diferentes em uma sociedade engessada que, por muitas vezes, tem exercido o preconceito. Por outro lado, ressalte-se a importância do Movimento da Reforma Psiquiátrica que conquistou transformações no âmbito das políticas públicas e das práticas em saúde mental no cenário brasileiro, apesar das dificuldades multifacetadas e limitações.
O novo modelo deveria priorizar o exercício dos direitos sociais, da cidadania, entre eles, o direito ao convívio familiar, comunitário e social, ao passo que deveria também, considerar as possibilidades e limites de cada pessoa. Assim, o novo modelo de saúde mental se aplicaria de forma mais justa e despida de preconceitos no que se refere a essa questão social, consequentemente, contribuiria de forma mais eficiente e eficaz na evolução do tratamento dos diferenciados tipos de transtorno mental que acometem uma boa parte da população brasileira.
Apesar da evolução da sociedade ao longo dos séculos, alguns conteúdos – como o da saúde mental e emocional – têm expressado um nível de velocidade menor quando comparados aos assuntos gerais. Isso comprova o peso histórico-social que o tema tem carregado até os dias atuais: do contexto dos hospícios e manicômios, passando pela Reforma Psiquiátrica e por instituições com atendimento diurno ao tratamento em domicílio sob a responsabilidade da família. Em todas as situações, por muitas vezes, tem estado fortemente presente, o preconceito com a Pessoa com Transtorno Mental (MACÊDO, 2019).
Vale ressaltar que, um dos avanços conquistados pela Reforma Psiquiátrica foi o da priorização da família na participação das discussões que envolvem a Pessoa com Transtorno Mental – PTM com o objetivo de trazer à luz, uma nova compreensão sobre a loucura. Conforme Vallada (1996), as pessoas com transtorno mental podem agir diferentemente: uma pessoa deprimida pode se apresentar triste ou apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode parecer exageradamente feliz ou irritável.
Nesse processo, faz-se necessário reconhecer que a instituição família também apresenta suas fragilidades, até mesmo por se encontrar em situação complexa que traduz e exige responsabilidades por uma ou mais pessoas acometida(s) de um ou mais tipos de transtorno mental e/ou emocional. Mesmo assim, é a família que tem assumido – na maioria das vezes – as responsabilidades: preocupações e ações, no que diz respeito aos casos que possuem um ou mais membros com transtorno mental no bojo familiar.
As famílias que possuem um membro acometido por um transtorno mental tendem a se adaptar ao modo de vida que a situação exige, onde, na maioria das vezes, chega a mudar determinados hábitos acerca do relacionamento familiar e a diminuir a sua participação em eventos sociais, culturais, políticos, outros, no sentido de dedicar a maior parte do tempo ao seu parente, ou seja, à pessoa com transtorno mental (MACÊDO e BEZERRA, 2008).
Em todos os casos: seja na internação, no acompanhamento às atividades e tratamentos em instituições ou nos cuidados e terapêuticas no âmbito domiciliar - é necessário que haja a participação da família e a construção de saberes e práticas em saúde mental, para que assim, se possa desmantelar o preconceito que ainda dificulta, em muitos casos, a busca de tratamento para os transtornos mentais.
[...] fatores como: ser visto visitando um psiquiatra ou um hospital ou clínica pode marcar alguém como mental ou psiquiátrico. O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para ele ser aceito, não importa o quanto ele tente, eles não conseguem afastar o estigma e o resultado disso e terminam perdendo a confiança em si mesmo (VALLADA, 1996).
A citação comprova a necessidade de discussão mais ampla sobre a saúde mental e emocional, como propõe o Janeiro Branco: projeto e campanha (2019). É viável compreender que o envolvimento com o tema, bem como, o conhecimento teórico-prático dentro das possibilidades e limites de cada um e em grupo, podem contribuir com o bem-estar e, consequentemente, com a saúde mental e emocional do coletivo.
Isto se dá quando os conceitos são revistos e/ou entendidos com maior clareza onde se permita quebrar rótulos como o de doido, maluco, louco, retardado mental, entre outros, geralmente direcionados às Pessoas com Transtorno Mental – PTM ou àquelas que por algum motivo, apresentam comportamentos que lembram algum tipo de transtorno psíquico, mental e/ou emocional.
Portanto, é somente a partir da concepção correta sobre a questão aqui referida, ou seja, a da saúde mental e emocional – que deverá acontecer a evolução da saúde individual e coletiva, inclusive, da família. Informe-se, exerça o diálogo sobre o tema, conspire para o bem-estar emocional, mental e social no seu contexto!
REFERÊNCIAS:
CLEMENTE, Adalton Silva et al. Concepções sobre transtornos mentais e seu tratamento entre idosos atendidos em um serviço público de saúde mental. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro/RJ, março de 2011.
MACÊDO, Antônio César Dias de; BEZERRA, Jacynilza Coêlho. A família e a pessoa com transtorno mental. Jornal. Ano XXI, n. 7.787. Diário do Povo do Piauí. Teresina/PI, 21 de fevereiro de 2008.
MACÊDO, Antônio César Dias de. Campanha janeiro branco: subjetividade e objetivos. CDC Canal Social - Ciência e Desenvolvimento Comunitário: Saúde Mental, 7 de janeiro de 2019. Disponível em: cdccanalsocial.comunidades.net/ Acesso em: 07/01/2019.
PSIQUIATRIA. Tudo o que você precisa saber sobre transtorno mental. Hospital Santa Mônica: Psiquiatria, 14 de março de 2018. Disponível em: hospitalsantamonica.com.br/ Acesso em: 09/01/2019.
SPP/DVSAM - Saúde Mental. Definição de saúde mental. Paraná: Secretaria da Saúde, 2018. Disponível em: saude.pr.gov.br/ Acesso em: 09/01/2019.
VALLADA, Homero Fº. Esquizofrenia. In: ALMEIDA, Osvaldo Pereira de; DRATCU, Luiz; LARANJEIRA, Ronaldo. (orgs). Manual de Psiquiatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
MACÊDO, Antônio César Dias de. Transtorno mental, família e sociedade: a desconstrução dos medos e preconceitos. Mostra Interdisciplinar em Saúde Mental. CDC Canal Social - Ciência e Desenvolvimento Comunitário, 23 dez. 2019.
Mestre em Saúde Coletiva - UEPB. Idealizador e Org. da MISM.
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